A Polícia Federal e autoridades europeias descobriram que a máfia italiana ‘NDrangheta, considerada a mais poderosa na Itália, tinha uma base montada em João Pessoa, de onde articulava a compra e venda internacional de drogas. Nos últimos anos, a Paraíba se tornou um ponto estratégico para a organização criminosa.
De lá, a facção articulava operações internacionais de tráfico de drogas, o que levou a uma série de ações policiais conjuntas entre o Brasil e a Europa.
A mais recente, batizada de Operação Conexão Paraíba, revelou detalhes sobre a presença da organização criminosa no estado e seu impacto no tráfico global de cocaína.
Quem são e onde atuava a máfia italiana no Brasil
A origem da ‘NDrangheta e significado do nome. O grupo nasceu na região da Calábria, sul da Itália, e o nome tem origem grega, significando “um grupo de homens de honra”. Hoje, é considerada a organização criminosa mais rica e poderosa da Itália, superando a Cosa Nostra e a Camorra.
Relação com o PCC. Apesar de não haver um vínculo direto, a ‘NDrangheta mantinha relações comerciais com facções brasileiras, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), para a aquisição de drogas. Em alguns casos, negociavam também armas de guerra como forma de pagamento.
Presença no Brasil desde os anos 1990. A organização atua no país há décadas. Registros mostram que membros da máfia passaram por estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Paraíba.
Desde 2019, uma cooperação internacional entre Brasil e Itália tem desarticulado redes da ‘NDrangheta. A Operação Conexão Paraíba, por exemplo, apreendeu R$ 120 mil, 30 mil dólares e cerca de 4 mil euros, além de relógios que podem chegar a R$ 200 mil.
Estratégias da máfia e operação da PF
A escolha da capital paraibana como base operativa se deve, segundo a PF, por ser considerada uma cidade pacata, longe dos maiores centros urbanos do país. Para não serem flagrados, eles usavam aplicativos de mensagens de celulares criptografados, ou seja, que não podem ser grampeados.
Na terça-feira (10), a PF realizou a operação Conexão Paraíba para cumprir oito mandados de prisão preventiva no Brasil e no exterior (até agora seis foram presos) que atuavam no grupo, que é originário da região da Calábria italiana e tem ramificações em vários países.
Segundo a PF, o grupo organizava tudo em João Pessoa por celular, onde faziam toda a logística. Muitas vezes a droga saía de outros países do continente americano —que é o principal fornecedor de cocaína para a Europa. Entre o material enviado, a PF chegou a perceber que eles chegavam a mandar cargas avaliadas em 10 milhões de euros (mais de R$ 63 milhões) em contêineres.
Operação Eureka e prisões internacionais. Em maio de 2023, uma operação coordenada por dez países prendeu 132 integrantes da ‘NDrangheta, incluindo membros no Brasil. Essa investigação revelou esquemas de lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de drogas envolvendo grandes quantias de dinheiro.
Rocco Morabito, o “rei da cocaína de Milão”. Capturado em João Pessoa em 2021, Morabito é um dos principais nomes da ‘NDrangheta. Ele organizava carregamentos de cocaína para a Europa e mantinha laços com o PCC. Após sua prisão, foi extraditado para a Itália em 2022. Antes, em 2007 Morabito foi preso no Uruguai, mas fugiu em 2009. Desde 2019, suspeita-se que ele estava escondido no Brasil, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraíba.
Expansão global. A organização está presente em vários países e tem conexões no mercado da cocaína na América do Sul, Europa e Oceania. A Austrália, onde o preço da droga é um dos mais altos do mundo, é um dos destinos preferidos do grupo.
Cocaína como carro-chefe. A droga é adquirida em países da América do Sul, como Brasil e Equador, e enviada para a Europa. Cargas chegam a ser avaliadas em até 10 milhões de euros (mais de R$ 63 milhões).
Redes complexas de lavagem de dinheiro. Entre 2018 e 2024, estima-se que a ‘NDrangheta movimentou cerca de R$ 7 bilhões em transações financeiras ilegais por meio de empresas e contas bancárias fictícias.
Operações sigilosas. A logística do grupo usava tecnologias de comunicação com aplicativos de mensagens criptografados.
UOL