Tribunais de todo o país pagaram R$ 12 bilhões a juízes e desembargadores a título de indenizações, direitos eventuais e pessoais no período de um ano, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) levantados pelo Metrópoles. Essa cifra corresponde à soma de auxílios, gratificações e bônus concedidos aos magistrados em razão de decisões judiciais ou de conselhos administrativos.
A maior parte das indenizações e dos penduricalhos, como auxílios e gratificações, foi repassada a juízes estaduais, que são a maioria na magistratura. Esse montante chegou a R$ 9,3 bilhões, entre novembro de 2023 e outubro deste ano. Outros ramos do Judiciário, como Cortes superiores e as justiças Eleitoral, Trabalhista, Militar e Federal, receberam os R$ 2,7 bilhões restantes no período analisado pela reportagem.
Esses são os valores que usualmente inflam as remunerações de magistrados para além do teto constitucional, correspondente aos subsídios recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), hoje estabelecidos em R$ 44 mil. A lista de magistrados do CNJ é composta de 17,4 mil juízes, cujas remunerações são exibidas ao órgão desde 2017 por tribunais de todo o país.
Ao contrário do restante do funcionalismo, para juízes, decisões que reconhecem o pagamento de verbas devidas do passado não entram para a fila de precatórios e são pagas imediatamente. Esses julgamentos são feitos em sessões administrativas dos tribunais ou em conselhos do Judiciário, como o CNJ e colegiados ligados aos diferentes ramos da Justiça.
No último ano, contracheques de magistrados de todo o país têm sido turbinados em razão do pagamento de adicionais por tempo de serviço (ATS). Mais conhecido como quinquênio, o ATS corresponde ao aumento automático de 5% nos salários a cada cinco anos. Ele foi extinto em 2006 pelo CNJ.
Em 2022, o Conselho da Justiça Federal (CJF), órgão administrativo ligado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e integrado em parte por juízes federais, atendeu a um pedido da associação da categoria, a Ajufe, para voltar a pagar o penduricalho, além de restituir todo o saldo retroativo desde 2006.
O ATS não foi o único benefício dado nesse período. Pontualmente, órgãos especiais dos tribunais concederam vantagens a juízes e conselhos ligados ao Judiciário atendendo a pedidos de magistrados. Nas planilhas divulgadas pelo CNJ, esses pagamentos são descritos como indenizações, direitos eventuais e pessoais – elas não recebem descrições mais detalhadas. Tribunais procurados pela reportagem silenciaram sobre o que os levou a pagar supersalários a seus juízes.
Tribunais que mais pagaram
A decisão teve efeito cascata. Tribunais de Justiça e Cortes federais de todo o país têm usado o julgamento do CJF para tomar a mesma decisão e fazer os mesmos pagamentos. Desde então, salários de magistrados têm sido inflados pelo ATS. Responsável pela maior média de remuneração nos últimos 12 meses, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) foi uma das Cortes que pagaram o ATS.
Com cinco desembargadores afastados sob suspeita de venda de decisões judicias, o TJMS realizou os maiores pagamentos líquidos nos últimos 12 meses ao seu novo presidente, Dorival Renato Pavan. Ele recebeu R$ 1,7 milhão em um ano, uma média mensal de R$ 145 mil.
Pavan assumiu o cargo porque estava na linha sucessória de Sergio Fernandes Martins, presidente da Corte, que está afastado e sob investigação. Afastado, Martins recebeu uma média de R$ 126 mil mensais e a soma de R$ 1,5 milhão apenas nos 12 meses levantados pela reportagem.
No Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO), por exemplo, 12 juízes ganharam mais de R$ 1 milhão líquido em um único mês, em fevereiro de 2024. Após o caso ganhar o noticiário, o CNJ abriu um procedimento para apurar os pagamentos milionários e pediu explicações ao TJRO. O líder desse ranking é o juiz Glauco Antonio Alves, que recebeu R$ 1,2 milhão em fevereiro de 2024.
O CNJ afirma ao Metrópoles que a “Corregedoria Nacional de Justiça é responsável por acompanhar, apurar e determinar a suspensão de casos irregulares de pagamento a magistrados e servidores do Judiciário”. “Ou seja, os salários são fixados por cada tribunal e o CNJ exerce um controle posterior e examina eventual ilegalidade”, afirma.
Crédito: Metrópoles