O ex-presidente Jair Bolsonaro reclamou, em entrevista à Folha, das investigações que miram seu entorno. “É como ser acusado de ter maltratado um marciano”, comparou, ao comentar os processos sobre fake news no contexto da delação premiada de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. “Qual é a tipificação de fake news no Código Penal? Não tem. (…) Não existe isso aí. Por que se abre um inquérito dessa forma, e os inquéritos duram para sempre? Qual é a intenção?”, questionou.
Bolsonaro concedeu a entrevista no hospital, após passar por duas cirurgias. O ex-presidente disse que Cid “é uma pessoa decente” e tentou não demonstrar preocupação com o acordo de colaboração que o tenente-coronel fechou com a Polícia Federal. “Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada dois meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas”, defendeu-se.
Ao longo da entrevista, Bolsonaro minimiza a relevância de Cid em sua gestão. Diz que ele era de sua confiança e fez um bom trabalho, mas que “ele não participava de nada”importante, como as reuniões que o ex-presidente teve com Vladimir Putin e Donald Trump, ou mesmo das conversas que mantinha com generais de quatro estrelas.
“Ele era de confiança. Tratava das minhas contas bancárias. Cuidava de algumas coisas da primeira-dama [Michelle Bolsonaro] também. Era um cara para desenrolar os meus problemas. Um supersecretário de confiança. Fala inglês, é das forças especiais, é filho de um general da minha turma [Mauro Lourena Cid]. Mas ele não participava [de decisões relevante]”, descreveu.