Submetido a uma cirurgia para implantação de prótese no quadril direito, Lula passa bem. Optou por não se licenciar do cargo. Estima-se que receberá alta hospitalar até terça-feira. Nas próximas semanas, despachará no palácio residencial do Alvorada. Chefe da equipe médica que operou o presidente, o doutor Giancarlo Polesello, informou que a recuperação do paciente incluirá a companhia de um andador. Lula deve ao país uma divulgação massiva de imagens da utilização do equipamento.
Na última terça-feira, falando para o programa oficial “Conversa com o Presidente”, Lula declarou: “Vocês não vão me ver de andador, de muleta, vocês vão me ver sempre bonito como se eu não tivesse operado”. A declaração foi ofensiva, incoerente e irresponsável. Ofendeu porque o capacitismo, termo que define a discriminação praticada contra pessoas com deficiência, desrespeita os brasileiros cuja mobilidade depende de equipamentos como andadores e cadeiras de rodas.
A falta de coerência decorre do fato de que Lula incluiu no grupo que subiu a rampa ao seu lado no dia da posse uma pessoa com deficiência. Fica a impressão de que a celebração da diversidade era apenas cenográfica. A fala foi irresponsável porque um presidente da República não é apenas uma faixa ou uma casaca. É preciso que por trás da pose exista uma noção qualquer de compromisso público.
A Presidência oferece àquele que a ocupa uma tribuna especial. Algo que o ex-presidente americano Theodore Roosevelt chamou de bully pulpit —púlpito formidável, numa tradução livre. De um bom presidente, dizia Roosevelt, espera-se que aproveite a vitrine privilegiada para irradiar confiança e bons exemplos.
Para converter declarações inaceitáveis em exemplo Lula precisa se exibir diante de fotógrafos e cinegrafistas usando um andador. Longe de enfeiar, o equipamento embeleza seres humanos que lutam para se manter íntegros e integrados.
Por Josias de Souza (UOL)