O ex-ministro da saúde, Marcelo Queiroga, está prestes a lançar um livro que promete “agitar” a última semana do mês de julho, em João Pessoa. Intitulado, “Queiroga – o homem, o médico e a pandemia”, a obra narra a jornada do cardiologista paraibano até a ascensão dele ao Ministério da Saúde, no auge da crise desencadeada pela Covid-19.
Com 70 capítulos e 388 páginas, o livro é um mergulho nos bastidores da atuação de Queiroga, complementado por dados técnicos e uma abordagem que, nas palavras dele, busca contrapor as “narrativas” relacionadas à sua gestão durante a pandemia. Além disso, conta com um prefácio escrito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, revelando detalhes sobre a relação entre os dois.
A publicação, cujo pré-lançamento ocorreu no último dia 03 de julho, em Curitiba, aborda momentos tensos e decisivos da crise sanitária, incluindo o controverso tema da vacinação, que gerou acirrados debates. Queiroga também compartilha episódios de embates nos bastidores do poder e como ele enfrentou os desafios mais difíceis da pandemia. O livro culmina com o encerramento da emergência de saúde pública em 22 de maio de 2022, um marco significativo no enfrentamento da crise.
Embora lançado pelo Partido Liberal (PL) como candidato a prefeito de João Pessoa, Queiroga afirma que a obra não possui motivações políticas. No entanto, é difícil separar o Marcelo Queiroga médico daquele que agora é apontado como um postulante às eleições do próximo ano, gerando expectativas sobre seu futuro político.
Ex-ministro Marcelo Queiroga explicando livro sobre pandemia / Foto: Felipe Nunes
Apresentamos, a seguir, trechos de uma entrevista exclusiva com o ex-ministro, revelando mais detalhes sobre o lançamento do livro e seu pensamento sobre os eventos relatados na obra.
FN Qual o objetivo do livro?
MQ O objetivo é deixar registrado nossa trajetória pessoal, o que nos levou ao Ministério da Saúde, porque não se cai de paraquedas numa posição como essa, não é? Eu cheguei lá porque, ao longo da minha vida, ao longo da minha carreira, eu construí as bases para chegar a essa posição. Não que se busque isso, não é algo em que você faz um curso para ser ministro. Não existe isso. É o destino que lhe coloca lá. Eu atuei como médico aqui na cidade de João Pessoa por mais de 3 décadas e, nesse período, construí uma carreira no associativismo médico. Na minha especialidade, eu presidi duas sociedades científicas nacionais, a Sociedade de Cateterismo Cardíaco (SBHCI), e depois fui presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que esse ano vai completar 80 anos, sendo a terceira maior sociedade de cardiologia no mundo, não é? Ela só perde em número de associados para a Sociedade Americana (ACC) e para a Sociedade Europeia (ESC), que não é propriamente uma sociedade, é uma federação de sociedades. Para ser sincero, Felipe, eu nunca pensei que seria presidente da SBC, achava que presidir a Sociedade Brasileira de Cardiologia seria praticamente impossível. Eu pensava que isso já era o máximo em que eu poderia chegar em termos de uma projeção nacional, mas aí o destino me colocou à frente do Ministério da Saúde. Então fui trabalhando e resolvi escrever minha autobiografia.
FN Por que convidou Bolsonaro para escrever o prefácio?
MQ Foi, eu o convidei e ele escreveu o prefácio. O presidente é uma figura, não é? Uma pessoa muito simples, que dá muito acesso às pessoas de uma maneira geral, e aos ministros também, não é? Os ministros têm relação de hierarquia, já que nós integramos o governo, mas como o presidente é uma pessoa muito informal a gente acaba tendo uma relação muito positiva com ele.
FN E o senhor vai fazer um lançamento aqui em João Pessoa? Como será esse lançamento?
MQ Ainda estou definindo o local. Irei buscar um local adequado para lançar o livro aqui na nossa cidade de João Pessoa.
FN Seu nome foi lançado como candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL. O livro tem ligação com seu projeto político?
MQ Não, o livro não tem relação com essa pré-candidatura à Prefeito, foi escrito antes. A pré-candidatura a prefeito é, de certa forma, decorrente do meu ingresso na vida pública na posição de ministro. Além da minha atribuição como médico, passei a ser um ator da cena política nacional. E no momento em que eu assumi a pasta, eu diria até que da cena política internacional, pois eu participei ativamente da construção das agendas dos organismos multilaterais da saúde pública mundial, como a Organização Panamericana da Saúde, Organização Mundial de Saúde, e na nossa gestão o Brasil foi escolhido como representante de todos os países da América no mecanismo de elaboração do Tratado Internacional de Pandemias. Então, agora, com a minha pré-candidatura, nós vamos acrescentar a essa trajetória, como ator da saúde pública, também, os problemas de uma cidade que já caminha para 1 milhão de habitantes. A saúde é um dos problemas, mas temos educação, mobilidade urbana, aspectos relacionados à habitação, saneamento, meio-ambiente, segurança pública, apesar de não ser o município que cuida da segurança, os municípios devem ter uma ação de protagonismo. A gente quer discutir a cidade de João Pessoa e trazer uma proposta para os pessoenses. Nossa Capital é bastante antiga, mas é uma Capital jovem com uma perspectiva muito boa para a Paraíba e para o Brasil.
FN O senhor falava muito em narrativas [contra sua gestão, quando foi ministro]. O livro é uma forma de deixar registrado para a história seu ponto de vista sobre o legado na pandemia?
MQ A época da pandemia foi de muita efervescência e os ânimos ficaram acirrados, então naquele período não houve condição para uma avaliação isenta. Eu até falo aí no livro que o tempo cronológico, às vezes, não registra, necessariamente, os momentos que a sociedade passa. Por exemplo: na virada do milênio, em uma sociedade que já começava a ser muito tecnológica, falava-se no bug do milênio. Mas, na verdade, não aconteceu nada. O que mudou o milênio? Para mim, muda com o 11 de setembro de 2001, com a queda das Torres Gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos, e depois você tem diversos outros fenômenos, como por exemplo o ataque terrorista que ocorreu em Paris contra o Charlie Hebdo por fundamentalistas islâmicos. Mas, nada se compara à pandemia da Covid-19, que não é somente uma pandemia, é uma sindemia, porque envolve mais do que os aspectos relacionados à saúde, há impactos na economia, há impactos na vida de cada um de nós. Quantas obras literárias não foram escritas nesse período? Por exemplo: os avós foram praticamente ceifados de viver com seus netos, durante o período de mais de dois anos, e isso traz mudanças comportamentais. Eu, modéstia à parte, fui um dos protagonistas dessa cena a nível nacional e mundial, pela relevância que o Brasil tem para o mundo. Então, deixamos isso tudo registrado, e não é só a questão do enfrentamento à pandemia, é a questão do sistema de saúde como um todo. As pessoas às vezes me perguntam: Por que o senhor aceitou ser ministro da saúde? Eu digo, primeiro porque isso é uma convocação, não é um convite que se recuse. Como diz o hino, “verás que um filho teu não foge à luta”. O presidente me convocou e eu tive que atender, mas um dos fatos que me fez atender a essa convocação com segurança foi o fato de o Brasil ter um dos maiores sistemas de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde, um universo de benefícios para a população do Brasil. Ao contrário do que se pensa, o enfrentamento à pandemia mais eficiente foi na atenção básica à saúde, com a campanha de vacinação que fizemos, a maior que o Brasil já realizou. Tudo isso eu relatei no livro. Outras ações foram feitas, que as pessoas não têm conhecimento, mas nós fortalecemos o sistema de saúde, triplicamos a capacidade de vigilância do SUS. Deixamos como legado mais 7 mil leitos de terapia intensiva para o Sistema de Saúde do Brasil, criamos programas na área de cardiologia, como o QualiSUS Cardio, que trouxe o embrião de uma mudança do modelo de remuneração no sistema de saúde. Introduzimos o conceito de saúde baseada em valor e não em volume de atendimentos. A questão do Câncer, o desenvolvimento do complexo econômico industrial da saúde, uma série de ações que fizemos e que às vezes ficam obscurecidas por enredos e narrativas que não são verdadeiras. O governo não cortou sequer um centavo para o tratamento do câncer, não cortou um centavo para o Programa Farmácia Popular. Pelo contrário, introduzimos cinco medicamentos novos. Agora estão lançando o novo Farmácia Popular, e sabe quantos medicamentos novos foram colocados? Nenhum a mais. São muitas narrativas, são muitas histórias, e quem conhece mesmo sabe que não são verdadeiras. Mas vindo dessa gente, a gente tem que saber que 90% é mentira.
Agenda Política – Felipe Nunes