O diabetes está entre as 10 principais causas de morte no mundo, com quase metade ocorrendo em pessoas com menos de 60 anos. No Brasil as estatísticas também não são nada animadoras, pois 12,5 milhões de pessoas têm o diagnóstico e a prevalência da doença é algo em torno de 8 a 9% da população, tornando o país no 4° lugar no ranking mundial em número de afetados, atrás da China, Índia e Estados Unidos. No Dia Mundial do Diabetes no próximo domingo (14), a nutróloga e médica do esporte, Clarissa Rios reforça que os dados mundiais tornam a doença uma epidemia global.
Para Clarissa Rios, vários fatores desempenham papel importante para o crescimento do diabetes, como: obesidade, sedentarismo e alimentação inadequada. “A grande maioria das pessoas acredita que só terá diabetes aquelas pessoas que comem açúcar em excesso, mas isso não é verdade”, alertou.
Segunda a nutróloga, o diabetes ocorre em uma grande maioria de pessoas por vários mecanismos alterados ao mesmo tempo. Os carboidratos entram nessa balança pois se transformam rapidamente em açúcar quando absorvidos, causa uma resistência do metabolismo em interpretar a informação de que tem excesso de glicose na corrente sanguínea.
“Para entender melhor esse mecanismo vou fazer uma analogia com o café. Se você é um tomador diário de café forte não deve sentir os efeitos colaterais do excesso de cafeína como taquicardia e falta de sono, porque os seus receptores corporais estão tão acostumados com a substância que não estão mais sensibilizados, necessitando de cada vez mais café para você ter esses efeitos estimulantes”, informou Clarissa Rios.
Ela ainda informou que no diabetes os receptores celulares não estão mais sendo ativados pela insulina da mesma forma que eram antes para a entrada de açúcar dentro da célula, fazendo com que a glicose aumente de concentração na corrente sanguínea. “Esse mecanismo alterado damos o nome de resistência à insulina, ou seja, a redução da captação de glicose para os metabolismos intracelulares”, disse a nutróloga.
Clarissa Rios também informou que a consequência dessa falha reflete no pâncreas, órgão responsável por secretar a insulina através de suas células ß-pancreáticas, que com o passar do tempo começa a ter a sua secreção deteriorada. O final dessa falha é a necessidade de começar a usar a insulina exógena através de injeções diárias para o controle da glicemia, já que o corpo vai parar de produzir a quantidade necessária para seu funcionamento.
Ela explicou ainda que os mecanismos interligados relacionados a falta de insulina para sinalizar a abertura dos receptores celulares ou receptores sem mais sensibilidade para se abrirem, causam um acúmulo de glicose no sangue e falta de açúcar dentro das células. “Isso mesmo, a corrente sanguínea estará com altas concentrações de açúcar, porém as células estarão sinalizando para nosso metabolismo que está precisando de açúcar para produzir energia”, disse.
“Nesse momento teremos um aumento da produção hepática de açúcar (neglicogênese – o fígado utilizará outros substratos como a gordura para formar glicose), aumentando ainda mais a quantidade de glicose no sangue. Os rins começam uma jornada intensa de reabsorção de açúcar, ou seja, não deixarão que moléculas de glicose sejam eliminadas pela urina, trazendo-as de volta ao sangue circulante. Aumentam também outros mecanismos de lipólise (quebra de gordura para formar glicose) e por isso, diabéticos descontrolados ou muito avançados costumam perder muito peso em pouco tempo”, informou Clarissa Rios.
Para a especialista em nutrologia, hoje um dos grandes problemas da alimentação do diabético está na ingesta de carboidratos e açúcares, alimentos que estimulam a secreção de insulina e que aumentam a quantidade de açúcar no sangue. “Para você ter uma ideia, o carboidrato é o nutriente que tem maior efeito sobre a glicemia, pois 100% do que é ingerido se transforma em glicose, a proteína, por exemplo, entre 30% e 60%, pode ser transformada e a gordura, somente 10%”, informou.
Segundo ainda Clarissa Rios, quando se é diagnosticado com essa doença é essencial entender como esses alimentos agem em nosso metabolismo, a quantidade por porção que pode ser ingerida e as possíveis substituições alimentares para os carboidratos de alto índice glicêmico. “Por isso é importante substituir os alimentos industrializados por aqueles naturais para o controle do açúcar, como a batata, inhame, macaxeira, ao invés do arroz branco e do macarrão”, informou.
Segundo a médica, muitas são as complicações do diabetes, porém, vale ressaltar que uma glicemia bem controlada diminui as chances de desenvolver doenças em órgãos alvos. Um dos locais mais afetados pelo excesso de açúcar no sangue são os rins, cuja principal função é a filtração do sangue.
Com a sobrecarga de açúcar, os rins acabam perdendo moléculas de proteínas para a urina, a chamada microalbuminúria. Já na fase avançada, a complicação é considerada doença renal terminal que necessitará de transplante do órgão ou sessões regulares de hemodiálise. O acúmulo de glicose no sangue também causa danos nos nervos, a neuropatia, que pode causar formigamento, dor, fraqueza e perda de sensibilidade. Esta última pode dificultar a percepção de calor, frio ou algum machucado levando a formação de úlceras de difícil cicatrização e passíveis de amputações devido à má circulação periférica do paciente diabético.
“Outros órgãos alvos da doença são os olhos. Pessoas com diabetes têm 40% mais chance de desenvolver glaucoma e 60% catarata. Tem também mais chance de pele seca, coceiras e infecções por fungos e bactérias. Depois de ouvir tudo isso, não há dúvidas de que o melhor é manter-se ativo e cuidar da alimentação para não desenvolver o diabetes, não acha?”, desafiou.
Clarissa Rios destacou que existem evidências científicas consistentes dos efeitos benéficos do exercício na prevenção e no tratamento do Diabetes Mellitus. “Uma das doenças que mais cresce no mundo e que pode tanto ser prevenida, como a linha de frente do tratamento é o exercício físico, pois os exercícios atuam tanto na prevenção, principalmente nos grupos de maior risco (obesos e os familiares de diabéticos), como agem de forma específica sobre a resistência insulínica”, destacou.
Para a nutróloga, outro papel importante do exercício no quadro do diabetes é a redução do peso corporal, que, por si só, já reduz o risco da doença, suas comorbidades como a hipertensão e a dislipidemia, e ainda diminui o risco cardiovascular.
Ela recomendou que o melhor exercício para o controle da diabetes é aquele realizado com sobrecarga, como a musculação, o treinamento funcional e crossfit. “Só caminhar vai ajudar um pouco, mas não muito. Enquanto que na maioria dos casos as pessoas com pré-diabetes ou já diabéticos utilizam-se de caminhadas no intuito de controlar a doença, a melhor forma de fazê-lo é promovendo o aumento da massa muscular. O músculo maior e mais ativado possui mais receptores para entrada de glicose na célula e também aumentam o gasto energético corporal basal, necessitando de maior produção de energia intracelular.
Clarissa Rios ainda fez um alerta indispensável para quem já faz tratamento para o diabetes: é muito importante o controle glicêmico antes e depois do exercício bem como o planejamento multidisciplinar da rotina de treinamentos. “Se você é diabético, não se aventure a fazer exercícios físicos sem uma boa avaliação prévia!”, lembrou.
Assessoria