Todos contra Bolsonaro custe o que custar. Essa é a frase que mais sintetiza o encontro histórico entre Fernando Henrique Cardoso e Lula. PT e PSDB se articulam para formar uma frente ampla contra Bolsonaro. O movimento, no entanto, é extemporâneo e atabalhoado . A estratégia de FHC pode trazer consequências danosas dentro do ninho tucano, que trabalha pela viabilidade de candidatura própria. Certamente, os afagos entre os dois ex-presidentes serão, fortemente, repudiados pelas principais lideranças do PSDB. O gesto de FHC deixa claro a tentativa, explícita, de implosão da candidatura do governador de São Paulo, João Dória, à Presidência. Terá sérias consequências dentro do partido, que vinha tentando construir uma candidatura distante dos extremos.
Além disso, a atitude precipitada de FHC serve de combustível para instigar a polarização, a radicalização que tem se mostrado desastrosa para o Brasil. Voltam-se a impingir a narrativa do “nós contra eles”, tudo que o país não precisa nesse momento de pior crise sanitária e econômica. Nesse debate, inclusive, a estratégia pode fortalecer o bolsonarismo, que se alimentam desse conflito. Possivelmente estrangula a tentativa de construção de uma terceira via, que pode sintetizar o sentimento de grande parte da população. Aliás, essa tendência foi constatada nas eleições em recente eleições no Chile. Nem esquerda nem direita. O povo escolheu o caminho do meio para composição do parlamento que será responsável pela elaboração da nova constituição. Uma tendência de fugir dos extremos. Uma sinalização. FHC parece, no entanto, estar disposto a esquecer o passado para pegar “atalhos” perigosos.