Confesso que vi estarrecido as imagens relativas às manifestações de 1º de maio em todo país. Uma quantidade gigantesca de pessoas aglomeradas nas ruas. Pensei que fossem imagens das manifestações de 2013. Infelizmente, tive a constatação que se tratava de imagens reais em pleno cenário de uma das mais violentas pandemias registradas na História da Humanidade. Tentei entender, além das razões óbvias, o que leva uma multidão a sair às ruas de todo o país protestar contra algo inespecífico, sem uma pauta lógica, já que pediam o fim do lockdown, que não existe no país.
Referência no estudo do comportamento das massas, recorri ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, para tentar compreender o que está por trás de um comportamento coletivo que beira a insanidade. Foi baseado nos questionamentos sobre os motivos que levam pessoas a participarem de guerras mantendo-as uma as outras, que Freud chegou à conclusão que o ser humano é dirigido pela força das pulsões. Mais que um desejo, as pulsões são estímulos originados no organismo que chegam até a mente e nos impulsionam a algo. Existem as pulsões de vida e de morte.
A pulsão de vida almeja estabelecer formas de organização que ajudem a proteger a própria vida. A todo o momento, estamos procurando uma forma de sobreviver, crescer e fazer mais em nossas ações e pensamentos. Já a pulsão de morte é direcionada à autodestruição, vontade irresistível e tendência autodestrutiva do ser humano. O conceito nos ajuda a compreender a razão psíquica, inconsciente, da multidão que saiu às ruas para protestar sabe lá por qual motivo. Racionalmente, vão dizer que estão protestando a favor da vida, da liberdade, do direito de ir e vir, do fim da “ditadura do STF”, mas o comportamento leva, mesmo que inconscientemente, ao percurso da morte, da dor, do luto.
Só Freud para nos ajudar a compreender atitudes de pessoas que demostram total insensibilidade a potencialidade de um vírus tão mortal, que se alimenta e hipertrofia de atitudes irracionais como as que vimos no sábado. Infelizmente, são essas pulsões de morte que vão gerar mais óbitos no país e todos nós ficamos reféns desses comportamentos insanos, já que o vírus cria novas variantes, nos distanciando cada vez mais do fim dessa triste pandemia e, consequentemente, do retorno seguro do mais próximo do “normal”. Como envolve saúde coletiva, cenas como as vistas jamais poderiam ser permitidas pelas autoridades, mas os insanos esperam apenas um movimento nessa direção para declararem guerra civil, afinal de contas, é importante ressaltar, que suas energias são canalizadas pelos impulsos de morte.