Leto Viana, de acordo com as investigações, não quis dividir a propina. Foto: Divulgação
Sabe a aquela música que diz “se gritar pega ladrão ” Pois bem, uma gravação ambiental em poder da Polícia Federal e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) do Minitério Público da Paraíba, imita bem a modinha. Nela, dois ex-vereadores de Cabedelo destilam ódio em relação a um colega que teria recebido R$ 150 mil a título de propina, em 2013, dividido o dinheiro com outros colegas, mas que teria deixado alguns sem receber nada.
O caso diz respeito a uma conversa entre os ex-vereadores Márcio Bezerra da Costa e Lúcio José, este último ex-presidente da Câmara. Os dois foram gravados por uma terceira pessoa, que estava na mesa, em um shopping de João Pessoa. Na conversa, a chateação é com Júnior Datele. Ele teria recebido o dinheiro das mãos do empresário Henrique Geraldo Lara, da Projecta. O acordo foi para que a Câmara de Cabedelo aprovasse a permuta de um terreno, que trouxe prejuízo ao erário.
O caso virou alvo de denúncia protocolada pelo Ministério Público da Paraíba na Justiça, nesta semana. Acontece que do dinheiro recebido, segundo os delatores, Datele entregou R$ 60 mil a Luceninha, então prefeito, e a ele caberia dar R$ 30 mil a Leto Viana, então vice-prefeito e que assumiu o cargo com a renúncia do titular. Acontece que com o dinheiro na mão, Viana não o repassou para o grupo dele, que seria formado, entre outros, por Márcio e Lúcio.
“O problema, eu vou dizer uma coisa a você, eu tenho, esse é o meu quarto mandato, né? Mas eu nunca vi um mandato assim, só pra gente aqui, com um pessoal tão bandido como essa câmara agora. Num pode ver uma carteira. Num pode ver um dinheiro que fica tudo doido. Tudo doido, doente, eu nunca vi isso não. Sério mero, desde o meu primeiro mandato eu num vi isso não. No primeiro mandato num vi isso não”, disse Márcio, por não ter recebido a parte dele na propina.
No caso de Júnior Datele, o diálogo mostrou ainda que os vereadores que ficaram sem o dinheiro pensaram em cassar o mandato dele, mas acabaram ponderando que isso exporia a todos.
Veja o diálogo:
LÚCIO Olhe, se eles botarem, estamparem isso aí, precisa nem estampar, que Júnior pegou o dinheiro da Projecta e repassou pro pessoal, a cassação dele é imediata. É imediata, e todo mundo sabe que ele pegou e deu pra todo mundo, todo mundo sabe disso.
FERNANDO Eu vou conversar com Júnior pra saber o que aconteceu.
LÚCIO Mas isso aí todo mundo sabe que foi verdade, que ele pegou o dinheiro e deu pra todo mundo.
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LÚCIO Ele vai se foder. Ali se botar o projeto pra frente ele tem dois terços, dez vereador, aí vai
sair. E ainda tem a empresa ainda.
MÁRCIO O foda é aquela situação lá. Então o que é que eu quero? A gente vai mexendo essas coisas.
FERNANDO Eu vou falar com ele.
LÚCIO Porque mesmo punindo ele numa situação dessa, fode a gente tudinho.
MÁRCIO Numa situação dessa o caba só tem duas coisas.
LÚCIO Fode a gente tudinho. Porque ele vai dizer que não comeu só.
Esta foi a sétima denúncia da operação Xeque-Mate. Ao todo, 11 pessoas entre ex-gestores, vereadores e servidores públicos foram denunciados. O núcleo do Executivo os ex-prefeitos Luceninha e Leto Viana e os servidores Inaldo Figueiredo da Silva, José Edgley Ramalho e Érika Moreno de Gusmão. Já o núcleo Legislativo inclui Lucas Santino, Rosildo Pereira de Araújo Júnior, Lúcio José do Nascimento, Antônio Moacir Dantas Cavalcanti Júnior, Tércio de Figueiredo Dornelas Filho e Márcio Bezerra da Costa.
O empresário alvo da investigação firmou acordo de Não Persecução Penal com o Ministério Público da Paraíba para pagar mais de R$ 635 mil. Por conta disso, ele não foi denunciado junto com os outros investigados na ação. A operação Xeque-Mate foi desencadeada em abril de 2018. De lá para cá, sete denúncias já foram protocoladas. Lúcio José chegou a ser preso e Márcio foi afastado do cargo.
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