Antes de mais nada, é preciso destacar a insegurança jurídica causada pela decisão do ministro do STF, Edson Fachin. Ninguém consegue explicar como uma decisão analisada e confirmada por vários órgãos, inclusive, o próprio STF, pode ser modificada, repentinamente, por alguém que contrariou o seu próprio entendimento em tempos passados. Isso gera instabilidade e precedentes gravíssimos no direito. Sem falar na mensagem que se passa para investidores, para área econômica e para fora do país em relação ao arcabouço jurídico brasileiro, falho e complacente com a impunidade.
Passada essa análise, vamos nos ater aos fatos políticos. A decisão de Fachin fortalece a polarização no Brasil entre Bolsonaro e Lula, um retorno ao debate eleitoral de 2018, onde Bolsonaro se deu melhor e tende a vencer nessa guerra de narrativas contra o PT. Ao invés da avaliação do governo, do trabalho de Bolsonaro à frente do país, cria-se a discussão se a população vai querer o retorno do PT ao poder ou não. Hoje, há uma forte rejeição ao partido por grande parte da população brasileira. A polarização, praticamente, sepulta as candidaturas de centro, a exemplo de Ciro Gomes, João Dória e o próprio Moro, que perdem espaço no debate para o ex-presidente.
Outro ponto favorável a Bolsonaro, é a divisão da esquerda no país com a candidatura de Lula. Dificilmente, o ex-presidente estará com Ciro Gomes no mesmo palanque em 2022. Se percebe, nitidamente, que a mágoa de Ciro com Lula é proporcional ao ódio por Bolsonaro. Isso ficou evidente na eleição de 2018 e reflete na fala do pededista. Também não será fácil aglutinar apoio do PSB, que tem uma relação mais amistosa com Ciro. Por outro lado, o PSOL pode indicar Boulos na chapa do PT. O PCdoB é aliado histórico do Lulismo.
Nesse cenário, é preciso observar o pragmatismo político do Centrão, que tende a permanecer com quem está no poder, desde que não haja desidratação da popularidade do presidente de plantão. O grupo tem o histórico de abandonar o barco no meio do caminho. Aliás, o presidente da Câmara, Arthur Lira, líder do Centrão, já deu um recado, nas entrelinhas, que não tem problemas em compor com Lula ao declarar: “Lula pode até merecer absolvição, Moro Jamais”. Sinalização clara de um possível entendimento com o petista. O sinal de alerta do governo já deve estar ligado.
Com a caneta na mão e com o poder de decidir o rumo do país, é certo que o sucesso na disputa eleitoral caberá mais aos acertos de Bolsonaro, principalmente, na condução da economia do que aos méritos do seu adversário. Bolsonaro entra na disputa dependendo dos seus próprios resultados. O populismo político e econômico é uma das consequências nefastas que essa disputa pode trazer ao país. Inclusive, o mercado financeiro já reagiu negativamente, ontem, a essa possibilidade. A agenda liberal, tão necessária ao desenvolvimento do Brasil, certamente, será abandonada por Bolsonaro, que mais do que nunca, vai focar todas energias no projeto de reeleição. A Lula, cabe torcer pelo fracasso do governo.