A política, infelizmente, é feita de incoerências. Foi concedido o direito ao ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) de retirar a tornozeleira eletrônica, após a defesa do socialista alegar que o equipamento estava com defeito e Ricardo correr o risco de ser contaminado pelo novo coronavírus com as diversas idas ao setor de monitoramento, no presídio de Segurança Média, em Mangabeira.
O argumento, por si só, é muito frágil. Pois, em casos como esse, o plausível seria trocar o equipamento defeituoso ao invés de conceder benefícios ao acusado. A decisão do ministro Gilmar Mendes não atenta para o princípio da razoabilidade, no qual se obedece os critérios aceitáveis do ponto de vista racional. Tanto é assim, que os outros réus, a exemplo da prefeita de Conde, Márcia Lucena, não conseguiram o mesmo favorecimento, tendo que realizar a campanha com a tornozeleira, prova inconteste do favorecimento ao ex-governador.
Dito isto, atentem para a flagrante incoerência entre o argumento e o comportamento do ex-governador: recebeu o favorecimento da retirada da tornozeleira, concedida só a ele, diga-se de passagem, sob a alegação que corria o risco de ser contaminado com a covid. Entretanto, Ricardo, candidato a prefeito de João Pessoa, está em plena campanha, percorrendo a cidade, concedendo entrevistas até em difusoras de bairro, como o fez, hoje, no sistema de alto-falantes, no Valentina.
Perceba que a narrativa da contaminação foi apenas o mote que Ricardo usou para conseguir o benefício e se livrar das incômodas tornozeleiras com o intuito de participar da campanha eleitoral. Tudo premeditado. É bom que se diga, que a inconsistência entre o discurso e a prática do ex-governador, que se auto-intitula o paladino da moralidade, mas teve a imagem desnudada pela Operação Calvário, fica a cada dia mais evidente.