O desembargador Ricardo Vital de Almeida converteu a prisão de Michelle Louzada Cardoso do regime fechado para o domiciliar. Michelle era considerada o braço direito de Daniel Gomes da Silva, justamente o comandante da Cruz Vermelha Brasileira filial Rio Grande do Sul e do Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional (IPCEP). O papel dela na organização criminosa denunciada pelo Ministério Público da Paraíba era justamente a entrega de propinas a autoridades, inclusive paraibanas. Para quem não lembra, ela foi a pessoa flagrada entregando uma caixa de vinho, supostamente recheada de dinheiro para o ex-assessor da Secretaria de Administração da Paraíba, no ano passado. Lá estariam quase R$ 900 mil.
Informações de bastidores dão conta de que Michelle Louzada estaria colaborando com as investigações coordenadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O recurso que resultou na conversão da prisão cautelar contou com a concordância do Ministério Público. Ela há havia apresentado antes uma ação cautelar inominada criminal, mas sem sucesso. O pedido foi reapresentado mais recentemente e houve concordância do desembargador relator da matéria no Tribunal de Justiça da Paraíba. Ela agora será transferida para o cumprimento de prisão domiciliar, mas com risco de retornar para a cadeia em caso de descumprimento das determinações da Justiça.
Confira a entrega da caixa ocorrida em agosto do ano passado:
Em colaboração premiada, Leandro Nunes Azevedo contou que foi ao Rio de Janeiro receber o dinheiro, em 2018, a pedido da ex-secretária de Administração, Livânia Farias. Ela também chegou a ser presa e fez colaboração premiada, de acordo com informações de bastidores. Ele atua como auxiliar de Livânia desde 2011, o primeiro ano de gestão do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). No mesmo ano, o contrato da Cruz Vermelha com o governo do Estado para administrar o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, foi firmado em meio a denúncias de irregularidades. Elas foram atestadas pela auditoria do Tribunal de Contas do Estado.
Leandro foi preso no dia 1° de fevereiro, durante a deflagração da segunda etapa da Operação Calvário. Na mesma data, também foram presos Daniel Gomes da Silva, mandatário da Cruz Vermelha, e Michelle Cardoso, a mesma flagrada em vídeo entregando dinheiro a Leandro. O MP cumpriu mandados de busca e apreensão, também, em endereços de Livânia Farias (Administração) e Waldson de Souza (Planejamento e Gestão). A Cruz Vermelha e o Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional (IPCEP) movimentaram R$ 1,1 bilhão de 2011 até o final do ano passado. Elas administram o Hospital de Emergência e Trauma, o Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires e o Hospital Regional de Mamanguape.
Dinheiro
No depoimento, Leandro Nunes contou que viajou ao Rio no dia 7 de agosto de 2018, para se encontrar com Michelle Cardoso no dia seguinte. Ele disse que foi à capital fluminense buscar R$ 700 mil a mando de Livânia Farias. Revelou que se comunicou com a auxiliar de Daniel através de um telefone comprado na cidade e com número cadastrado com um CPF qualquer, que encontrou na internet. A surpresa dele é que, ao abrir a caixa, nela encontrou exatos R$ 870 mil, um montante bem acima do acertado entre Livânia e o mandatário da Cruz Vermelha, de acordo com o depoimento dele.
Leandro contou ao Ministério Público que fez muitos pagamentos e usou, inclusive, o dinheiro a mais. Ele carregou o dinheiro em uma mochila e fez os pagamentos. Para outros fornecedores, pediu números de contas para fazer os depósitos em terminais de autoatendimento. Ele elevou o montante a ser pago a alguns fornecedores e dividiu o dinheiro em bolos de R$ 10 mil para fazer outros pagamentos.
Leandro disse que voltou do Rio com entre R$ 10 mil e R$ 15 mil em dinheiro. Disse ainda que entregou todos os comprovantes a uma pessoa identificada como Júnior e recebeu dele a resposta de que o dinheiro havia caído nas contas.
Blog do Suetoni