Ontem (20/06) realizou-se em todo o Brasil um grande evento cristão-evangélico, a Marcha para Jesus, que, quando criado, foi idealizado para celebrar o nome de Cristo, para clamar pela paz, mas também foi pensado para reafirmar os princípios contidos nos evangelhos. Infelizmente, não foi o que aconteceu ontem em São Paulo, quando, motivado por sua particular falta de lucidez, o então presidente Jair Bolsonaro ao se dirigir aos integrantes da marcha, não se rogou de sua característica exaltação à violência, primeiro defendendo o projeto que flexibiliza o uso de armas no país e, não satisfeito, esboçou o gesto da chamada “arminha”, usada por ele como símbolo de campanha.
Como cristão e evangélico, tenho que dizer que existiu algo de muito errado naquela cena e, até mesmo a permissão para o tom do discurso utilizado por Bolsonaro, estão em total desacordo com os ensinamentos do cristianismo. O uso da Marcha para Jesus, por outro lado, com fins políticos, foi um ato de desrespeito, não une o povo evangélico e revela a magnitude da falta de responsabilidade dos líderes religiosos que riam do exacerbado culto à violência, além de se deleitarem com a retórica conservadora contida na fala do inábil orador.
Não quero aqui me apresentar como dono da verdade, até porque a democracia, enquanto pilar do estado de direitos, permite-nos compreender e defender ideias plurais, divergentes, mas decididamente não poderia concordar com as severas contradições existentes entre o discurso do ódio e a mensagem de Cristo deixada à humanidade. Jesus não nos orientou a matar, ou mesmo disse “sedes violentos”, assim como não ordenou “executais teus inimigos”. Ao contrário, a nova aliança firmada por Jesus tem como ensinamentos a exaltação ao perdão, orienta-nos a mansidão no trato, e propõe a busca da paz e da justiça.
Foi assim que aprendi e fui aconselhado por meus orientadores pastorais, é o que se lê nas escrituras. Ao aceitar que a pauta da violência passe a dialogar com o povo evangélico, seja ela praticada no trânsito, contra os povos indígenas, contra o meio ambiente, ou mesmo pela disseminação do uso de armas, as igrejas estarão cometendo graves erros, sendo o de origem permitir, praticar e disseminar ideias e valores opostos aos do cristianismo. A nossa história, por outro lado, também nos revela que o povo cristão já fora vítima das intolerâncias, e sofreu com perseguições, humilhações, agressões e, até perdemos vidas valorosas, por envolvimento em tramas com motivações antagônicas aos das pregações de Jesus. Devíamos ter aprendido, vigiar, perceber que o “lobo vem fantasiado de cordeiro”.
Bolsonaro, idolatrado pelo mercado, cultuado pelos seguidores da violência e, agora, elevado à condição de “Mito”, de “Messias”, inclusive por alguns que se dizem cristãos, na verdade, parece ser aquele “bezerro de ouro” enviado para confundir e nos enganar. Portanto, saber separar a fé do Estado e da política é, sem sombra de dúvidas, o desafio que nos fará passar por esses dias de grande dificuldade sem ter que, no futuro, amargar arrependimentos e curar feridas profundas. E, por fim, deixo para a reflexão coletiva o seguinte ensinamento, contido em Isaías 10:1e2 que nos diz “Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores,
para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos!”
Marcos Henriques
Vereador de João Pessoa