Quatro dias após a eclosão da segunda fase da Operação Calvário, que investiga a atuação de uma organização criminosa que operou R$ 1,6 bilhão em verbas públicas da saúde da Paraíba, o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) manteve o silêncio sobre o escândalo de repercussão nacional. A estratégia de blindagem em torno do nome do socialista, que era governador quando o contrato suspeito foi celebrado com a Cruz Vermelha do Rio Grande do Sul, em 2011, vem mantendo Coutinho afastado dos holofotes desde sexta-feira (1º).
Na ocasião, três pessoas foram presas e dois secretários estaduais foram alvos de mandados de busca e apreensão, a pedido do Ministério Público da Paraíba (MPPB). Pelo segundo dia consecutivo, a assessoria do ex-governador não atende aos pedidos de entrevista feitos pelo Portal OP9.
A tentativa de desvincular Coutinho do espiral de denúncias teve início publicamente nesta segunda-feira (4), quando o seu sucessor e aliado, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), disse não achar necessário que o seu padrinho político se manifeste sobre a operação: “O ex-governador não foi citado e envolvido em absolutamente nada”, afirmou Azevêdo.
De fato, o nome do ex-governador não aparece do despacho de 49 páginas formulado pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida, do Tribunal de Justiça da Paraíba. No entanto, as investigações do Grupo de Combate ao Crimes Organizado do Ministério Público (Gaeco) continuam mesmo após o cumprimento dos mandados. Os promotores querem saber se existe a participação de outros políticos graúdos e partidos locais em esquemas de financiamento ilícito de campanhas eleitorais no Estado.
Em sua decisão, o desembargador cita que a investigação do Ministério Público detectou que o histórico de declarações e mensagens do WhatsApp de Michelle Cardoso indica que ela viajou a João Pessoa para financiar clandestinamente campanhas políticas no segundo turno das eleições de 2014. Michelle é secretária particular de Daniel Gomes de Lima, considerado pelo MPPB como o chefe da organização criminosa. Ambos foram presos durante operação.
Outro trecho do despacho de Ricardo Vital de Almeida aponta que, oito meses antes da celebração do contrato da Cruz Vermelha com o governo do Paraíba, Jaime Gomes de Lima, tio de Daniel Gomes de Lima, “ofertou contribuição de R$ 300 mil à campanha para o PSB, após o partido ter obtido êxito na eleição para governador em 2010”. Para o desembargador “trata-se de doação anacrônica, ou seja, realizada após o pleito eleitoral”. Na ocasião, Ricardo Coutinho foi eleito para o primeiro mandato pelo PSB.
Na única postagem de Ricardo Coutinho nas redes sociais após a eclosão da Operação Calvário, não há qualquer menção ao escândalo. Neste domingo (3), o socialista publicou uma mensagem em suas contas oficiais no Twitter e no Instagram, nas quais parabeniza a Polícia Militar paraibana pelos 187 anos.
Fonte: Op9