O governo do Estado deixou para publicar o decreto de intervenção nos hospitais administrados pela Cruz Vermelha na sexta-feira, provavelmente, para tentar minimizar o impacto do fato por causa do hiato do fim de semana. Mas não é bem assim. O caso tem
vislumbre de grave e escândalo e precisa ser bem explicadinho.
Leia também: Um dia antes da Operação Calvário, Ricardo Coutinho sanciona lei que reconhece Cruz Vermelha como utilidade pública
Há muitas perguntas a serem respondidas. A secretária de Saúde, Cláudia Veras, não fiscalizava o contrato como era de sua obrigação? Eis uma pergunta que desafia respostas. Se a secretária disser que não sabia de
nada, admitirá que não cumpria sua obrigação e, assim, pode ser considerada
incompetente e negligente.
Leia também: João se antecipa e exonera assessor investigado na Operação Calvário
Na outra forma, se assumir que fiscalizava e sabia das irregularidades, terá que explicar porque não tomou as providências bem antes, como também é de sua função. Aliás, neste ponto, o decreto da última sexta-feira, pela sua extensão e profundidade, uma vez que estabelece intervenção em praticamente tudo, sugere que o governo do Estado sabia de tudo que ocorria com a gestão da Cruz Vermelha. E o superpoderoso secretário Waldson Souza vai passar de fininho nessa história como se não tivesse nada com o abacaxi? Lógico que Waldson, que era secretário de Saúde quando a Cruz Vermelha foi contratada pelo governo do Estado, e virou depois o principal secretário do governador
Ricardo Coutinho, coordenador da campanha de João Azevedo e agora um de seus principais assessores, tem muito e explicar. Claro que Waldson sabe muito.
Intervenção na Cruz Vermelha; Confissão de culpa ou antecipação da Operação Calvário
Qual a razão para uma intervenção tão ampla e irrestrita? Esta é mais uma pergunta que precisa de explicação do governo. Se o ex-governador, atual governador e secretários do governo garantiam que não havia problema
na atuação da Cruz Vermelha na Paraíba por que fazer uma intervenção que praticamente anula a atividade da organização? O tipo de intervenção feita sugere que o Estado tem conhecimento de que existe algo de muito grave e faz-se necessário uma intervenção mais forte.
Mas por que a intervenção não foi feita bem antes, uma vez que já havia relatórios do Tribunal de Contas apontando as irregularidades e o Ministério Público pediu há tempo o fim do contrato?
BASTIDORES: Desdobramentos da Operação Calvário na Cruz Vermelha da Paraíba
Aqui, neste ponto, surgem as questões mais graves. Na verdade, o Estado, na gestão do governador Ricardo Coutinho, agiu de forma estranha e fora de todos os padrões normais para o caso de relação com uma organização que tem toda sua cúpula presa por envolvimento em escândalos em várias unidades da
federal. O correto era pôr a barba de molho, mandar fiscalizar, auditar, levar em consideração a auditoria do Tribunal de Contas e os procedimentos do Ministério Público. Ao contrário, porém, o governador Ricardo Coutinho fez, pessoalmente, a defesa da Cruz
Vermelha, praticamente até o último dia de seu governo.
O fio da meada indica que governo todo agiu para acobertar a atuação criminosa
da Cruz Vermelha, sendo que o defensor mais veemente foi sempre o ex-governador Ricardo Coutinho.
E por que acobertava? E só acobertava?
Difícil acreditar. Por tudo, é perfeitamente possível se suspeitar que o decreto de intervenção do
atual governador João Azevedo, que na campanha também defendeu a Cruz Vermelha, faz parte da mesma estratégia para tentar salvar Ricardo e alguns poderosos secretários.
A alegação para antes vai ser dizer que não sabiam. Daqui pra frente vão alegar
que as providências foram tomadas.
Nada, porém, terá sido feito para evitar as irregularidades em sete anos de atuação na Cruz Vermelha, com volumosos desvios apontados pelo Tribunal de Contas. E para
quem foi o dinheiro? O ex-governador, seus secretários, que continuam no governo, e o atual governador não podem dizer nunca que não têm nada a ver com este escândalo da Cruz Vermelha.