Chama a atenção o fato de 40 dias após a deflagração da Operação Calvário, que resultou na prisão de 11 pessoas, entre elas o diretor nacional da Cruz Vermelha, Daniel Gomes da Silva e o empresário, Roberto Calmon, em um hotel na orla da praia do Cabo Branco, em João Pessoa, o Governo da Paraíba determinar intervenção na gestão dos hospitais administrados pela Cruz Vermelha, entre eles, o Trauma, Metropolitano e o de Mamanguape.
Coincidentemente ou não, o decreto vem após informações de bastidores reveladas pelo Blog do Anderson Soares, nas quais apontam desdobramentos da Operação Calvário na Paraiba com mandados prontos para serem executados contra “figuras” influentes na gestão estadual. Segundo informações, equipe do Fantástico, da Rede Globo, já esteve gravando no Hospital de Trauma.
Em nota divulgada para explicar o decrero, o Governo do Estado justifica a decisão alegando inequívoco zelo com a coisa pública. Porém, não é o que constata o relatório do Tribunal de Contas do Estado, datado de 3 de dezembro de 2018, que identificou superfaturamento na contratação de empresas, inclusive sem licitação, e ainda de forma surpreendente a “quarteirização” de contratação de mão de obra com custos elevados. O relatório é devastador e, ao final, o Tribunal pede, dentre outras, a rescisão do contrato do Estado com a Cruz Vermelha e responsabiliza a secretária de Saúde, Cládia Veras.
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Diante da afirmativa do governo sobre o “inequívoco zelo pela coisa pública”, algumas perguntas não querem calar: apesar de todos os indícios apontados pela Operação Calvário e o TCE, os contratos com a Cruz Vermelha serão anulados? Como ficarão os pagamentos daqui para frente? O governo continua mantém o mesmo discurso de campanha sobre a lisura dos contratos com a Cruz Vermelha, objeto de denúncias e questionamentos da oposição? A Assembleia Legislativa vai anular o ato, sancionado pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que reconhece a Cruz Vermelha como entidade de utilidade pública?
Diante dos fatos expostos, a intervenção do governador soa mais como uma medida antecipatória aos fatos que se prenunciam sobre a nova fase da Operação Calvário – com potencial para encrencar companheiros do PSB – do que uma medida embasada no zelo com a coisa pública”. Pelo relatório do TCE e pelas informações privilegiadas obtidas pelo Blog, o PSB paraibano percorrerá um longo calvário carregando sua cruz, que por sinal, é vermelha.