Renato Martins
De forma sem sentido os representantes do governo do estado e seu staff midiático alegam uníssono que nada sabiam e que a culpa das fraudes por anos a fio são apenas dos clubes e da FPF/CBF. Muito descrédito no seu próprio controle, parecendo não ter sistema de compliance na gestão, o que já inspira medo em nós cidadãos. No entanto, para analisar essa postura cínica, primeiro é preciso registrar que nem a CBF ou a FPF constam como pessoas jurídicas ativa do convênio do programa. Sequer tem responsabilidades de contrapartidas estabelecidas. Em geral estas entidades futebolísticas são culpadas de muitas coisas, porém, neste programa não. Logo, este empurrar de culpa pelo governo do estado foi para ocultar a própria culpa. Como veremos adiante com provas.
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Outro grupo que ainda não foi culpado, mas antes que ocorra vou logo antecipando sua condição de vítima, são os torcedores, que nunca foram envolvidos numa cultura para se habituarem a cobrar notas fiscais, já que este programa de disseminado, ágil e fácil, nunca teve nada, exceto quando seus ingressos eram vistos nas mãos de assessores e outros próximos dos dirigentes fazendo a venda proibida dos mesmos. Portanto, inequivocamente, o torcedor em geral não foi beneficiado pelo programa e nem se posicionou como fiscal a cobrar notas fiscais, já que não era estimulado adequadamente para isso pelas partes constituidoras do programa. Favor então não nos culpar, como desculpa após essas novas provas que apresentaremos.
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Antes de mostrá-la vamos a uma rápida consulta ao Aurélio, neste dicionário ser gestor é ser gerente; administrador. Aquele que atua gerenciando e administrando com fins a resolver questões determinadas. Feito isso, lembramos que o gestor do programa Gol de Placa é o governo do estado. Nunca os clubes, nunca as empresas ou a torcida. O fato é que restaram unicamente como potenciais culpados da fraude, os clubes e os gestores do programa da parte do Estado, no caso, a Secretaria de Juventude Esporte e lazer. Vamos mostrar que os erros não foram ao acaso e jamais aconteceriam se não fossem geridos de forma a que eles existissem, dado o caráter flagrante e explícito do esquema em total discordância dos objetivos esperados pelo programa quando na oferta de mais de 15 milhões de reais só de 2014 para 2018. Em 2019 o trem continuaria a ser o mesmo e teríamos mais alguns milhões da população gastos sem retorno social algum, chegando a totalizar mais de 20 milhões nestes últimos seis anos de gestão girassol cega. Tudo isso sem que saibamos quem sai ganhando o quê das partes fraudadoras para que isto seja desse jeito.
A Operação Cartola recebeu muitas denuncias desta fraude, tratou-as como possível lavagem de dinheiro e até suspeitou que daí teria saído os recursos para a compra de árbitros. Porém a operação não avançou por forças obscuras que talvez um tempo nem tão distante revele. Tipo outros casos de obstrução tão comuns na era RC. Até que essas revelações no forno cheguem, a dissimulação do poder fez como vítima o delegado Lucas Sá, rebaixado no estado, em minha opinião, por ter tentado ser correto. O MP pode e deve corrigir este cenário. Enquanto isso, que todos façamos nossa parte. Vamos adiante com as novas provas:
1- Comecemos mostrando um estabelecimento comercial. Este primeiro fica em um shopping no centro da cidade, notem que nestas prestações de contas, como bem mostrou a matéria da Folha de São Paulo sobre o inicio do paraibano 2019, quase sempre eles usam um só comércio, de preferência postos de gasolina. Afrontando totalmente o objetivo do investimento estatal. Peço que decorem o número da inscrição estadual logo no final da primeira linha dos dados. Vejam bem:
Decorado o número de inscrição desta loja, notem que pintei de laranja tudo de informação que entendo não ser pertinente à formação de minha opinião especificamente sobre esta improbidade administrativa cometida pela gestão estadual no programa. Lembrem-se que o objetivo central do investimento feito com nossos recursos é fazer com que o torcedor, consumidor difuso que é, possa cobrar notas fiscais de pontos diversos como padarias, supermercados e outros estabelecimentos comerciais, e, assim, cumprir a ideia da cultura de fiscalização e denúncias destes estabelecimentos se sonegando estiverem. Mas isso não tem a menor chance de acontecer, pois o próprio estado não faz essa cobrança aos clubes, essa exigência nodal do programa é negligenciada pelos gestores estaduais. Justamente por quem fornece nossos recursos. Vejamos de forma clara:
2- Abaixo segue trechos do relatório oficial do jogo Nacional de Patos x CSP realizado no paraibano cerca de 1 ano atrás em 25/02/2018. Vejam quantas pessoas “fantasmas” supostamente foram ao jogo e notem na coluna para se botar a inscrição estadual do comércio emissor da nota, qual o único estabelecimento comercial que forneceu 2500 notas fiscais para este evento desportivo:
Trata-se de 67 páginas com 2500 nomes e seus CPFs que obstruí com a cor laranja, todos oriundos do mesmo comércio acima (vejam número de inscrição 16.195.899-0). Logicamente só postarei algumas fotos: acima foi a da primeira página, logo abaixo uma outra do meio da lista e logo depois a última de forma a vocês terem condição de entenderem o caráter flagrante que os secretários da SEJEL permitiram graciosamente que ocorressem durante anos, no mínimo desde 2014 perdurando até 2018.
Esse é um print da página 42, no meio da listagem. Segue abaixo da última página:
Essa é a última foto desta listagem oficial entregue ao governo do estado onde no mínimo formalmente se confessa de maneira indisfarçada, que não se “ensinou” o torcedor a cobrar nos vários comércios de sua rotina as ditas notas fiscais importantes ao objetivo proposto pelo órgão pagante; o estado.
Repetindo fazendo a trilha impossível; trata-se de uma prestação de contas com 2500 pessoas que pegaram nota fiscal comprando nessa mesma loja, que fica em João Pessoa, então foram para Patos trocar o ingresso e irem ao estádio. Este que, por sua vez, não teve quase ninguém neste jogo.
Por fim, foto do relatório último com o registro deste jogo, quando já homologado pela SEJEL. Ou seja, devidamente atestado como tudo OK e confirmado para quitação no custo de cerca de 20 reais por “cabeça” ou alma. Tudo absurdamente pronto para o seu devido pagamento que ocorreu integralmente dentro do primeiro semestre do ano passado:
O estado que por meio de seus gestores responsáveis, tão bons de foto e propaganda junto às torcidas, deveria garantir o bom funcionamento e certificar-se do sucesso do programa, na verdade atuou como peça central deste esquema fraudulento. Atuou como maestro; um meio de campo no jargão futebolístico. Nomear isso como postura cúmplice, me parece mais pertinente que incompetente. Prevaricação, negligência, tudo redunda em improbidade administrativa.
Ficam algumas perguntas finais: muitos jogos de quase todos os clubes foram assim de 2014 para cá? Os secretários da SEJEL, sobretudo o que mais tempo durou, o então vereador Tibério Limeira, não viu que as notas eram advindas do mesmo estabelecimento? Essas notas de mesma origem e com nomes usados em diversos jogos são frias?
Possivelmente todas as respostas destas perguntas sejam sim. Por isso espero que tanto os gestores ordenadores de despesa do estado, como os dirigentes culpados devolvam os recursos ao povo paraibano e ao nosso esporte. E que isso seja feito com a devida punição. Feito para a justiça. Feito para ampliar a arrecadação do governo, e em benefício dos torcedores e dos possíveis dirigentes corretos. Custa fazer as coisas acertadamente? Honestamente.
Justiça à vista é sempre mudanças à vista amigos. Logo a justiça chegará a nossos parlamentos também.