As heranças do governo Ricardo Coutinho (PSB) estão estremecendo as bases da gestão João Azevêdo (PSB), que nos seus primeiros 30 dias de governo já tem colocado em cheque várias pautas que até ano passado eram defesas ferrenhas do projeto socialista na Paraíba.
A Cruz Vermelha mesmo se tornou o ‘peso nas costas’ da gestão Azevêdo, que tem contrariado aquilo que ele e Ricardo Coutinho defendiam até ano passado, quando diziam não haver qualquer problema com a Organização Social responsável pela gestão dos hospitais estaduais. Na manhã desta quinta-feira (31), Azevêdo reconheceu que a exoneração de Leandro Azevêdo, assessor de sua secretária de Administração e braço direto de Coutinho, Livania Farias, está ligada às investigações da Operação Calvário, que investiga um esquema de desvio de dinheiro público dentro da Cruz Vermelha.
“Houve uma solicitação por parte do próprio funcionário que pediu exoneração. Ele se sentiu incomodado de ter sido citado na ação e pediu exoneração”, disse João Azevêdo, em entrevista à imprensa, confirmando a ligação do assessor do governo na investigação. O anúncio reconhece os “elefantes brancos” que habitam a ‘sala’ dos socialistas e não vai tardar a espremer aqueles que dividem o mesmo cômodo.
No ano passado, por reiteradas vezes, Ricardo Coutinho defendia a gestão da Cruz Vermelha nos hospitais da Paraíba. Uma destas defesas foi durante entrega de uma etapa do Parque Ecológico Bodocongó, em Campina Grande, quando o então governador disse que não havia nada contra a Cruz Vermelha da Paraíba, mesmo tendo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o DENASUS, a Controladoria Geral do Estado (CGE) e o Ministério Público da Paraíba (MPPB), desde 2011, apontado auditorias mostrando o contrário.
Na época, Ricardo Coutinho politizou a discussão, inclusive atribuindo aos veículos de comunicação do Estado a criação de factoides sobre o tema: “Não existe nada de denúncia contra a Paraíba. Esses são os resquícios da péssima política que ainda impera, onde gente que diz que não é política tenta fazer política usando a informação, e esse tipo de coisa não consigo considerar normal. Como é que alguém pode denunciar o que pode ser, sem ter absolutamente nada de concreto? Se porventura qualquer coisa for dita e provada dentro do Estado, eu, até o dia trinta e um de dezembro, sou o primeiro a agir”.
Não só não agiu, como renovou o contrato com a Cruz Vermelha do Brasil. Por que o assessor de Livania Farias, lotado na Secretaria de Administração, está imbricado numa instituição que prestava serviços a outra pasta, a Secretaria de Estado da Saúde? Por que João Azevêdo, que até outubro do ano passado defendia a Cruz Vermelha, passou a enxergar a Organização Social sob olhares suspeitos, tentando desvincular sua administração daquela instituição? E por que o Executivo, diante de tantas sinalizações, seguiu sem tomar medidas administrativas duras contra as Organizações Sociais acusadas de uso indevido do erário? O piso socialista mostra suas rachaduras e diante de tantas questões a serem respondidas tão logo podem virar imensas crateras.