No seu segundo pronunciamento desde a divulgação das primeiras informações sobre a delação premiada de executivos da JBS, o presidente Michel Temer atacou Joesley Batista, um dos donos do grupo empresarial, e anunciou que vai apresentar pedido ainda neste sábado (20) ao STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender o inquérito aberto contra ele na Corte.
A suspensão, segundo Temer, deve ocorrer “até que seja verificada em definitivo a autenticidade” do áudio de conversa entre ele e o empresário Joesley. O presidente chamou a gravação de “clandestina” e “fraudulenta”.
Em decisão tornada pública nesta sexta-feira (19), o ministro do STF Edson Fachin autorizou o início de investigação contra Temer.
A Procuradoria-Geral da República vai investigar se o presidente praticou os crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.
O áudio gravado pelo dono da JBS contém uma conversa entre ele e Temer, no qual ambos falam sobre o deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado pela Operação Lava Jato, e sobre tentativas de obstrução das iinvestigações por parte do empresário.
O diálogo ocorreu dentro do Palácio do Jaburu, residência do presidente, fora da agenda oficial, a partir das 22h30.
Registro que eu li hoje notícia do jornal ‘Folha de São Paulo’ de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada
com objetivos nitidamente subterrâneos.
Incluído no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil”, declarou Temer, no início do discurso.
A interpretação dada pela Procuradoria ao diálogo é a de que Temer concordou com a iniciativa do empresário de comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e já condenado, pela Operação Lava Jato.
Em nota, o Palácio do Planalto alegou inocência de Temer. “A acusação não procede e o diálogo do presidente com o empresário Joesley prova isso”.
“Falastrão”
Durante sua fala, que durou pouco mais de 12 minutos, o presidente também chamou Joesley de “falastrão”, em uma tentativa de desacreditar quem o delatou. “Ele cometeu o crime perfeito. Enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos. Quero observar a todos vocês as incoerências entre o áudio e o teor do depoimento. Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado”, disse.
Temer falou ainda sobre a imunidade concedida ao dono da JBS, que segundo ele “está livre e solto, andando pelas ruas de Nova York”. “Ele não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, nem julgado, nem punido e pelo jeito que está não será”, afirmou.
Marcado para as 14h pela Secretaria de Comunicação da Presidência, o pronunciamento começou com 49 minutos de atraso. O deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também são alvo da investigação, aberta a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), com base na delação de Joesley.
O empresário relatou que foram pagos, a pedido de Temer, valores milionários, entre 2010 e 2017, para garantir vantagens indevidas. Montantes que teriam incluído, por exemplo, R$ 3 milhões em propina na eleição de 2010, quando Temer foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), foram pagos em parte por meio de doação oficial e em outra parte.
por meio de caixa dois, segundo o delator. Na quinta, em seu primeiro pronunciamento, Temer já havia negado qualquer conduta ilegal. áudio. O presidente afirmou que não renunciará.
A crise política no governo Temer se agravou ap
crise política no governo Temer se agravou após a divulgação da delação. Até agora nove pedidos de impeachment já foram protocolados contra Temer na Câmara dos Deputados. Partidos aliados ameaçam deixar o governo.
Neste sábado, o PSB anunciou rompimento oficial com o governo federal e “sugeriu” a renúncia do peemedebista “o mais rápido possível”. O partido tem um ministro do governo, Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE), das Minas e Energia.
Além do PSB, o Podemos (ex-PTN) e o PPS já haviam anunciado o rompimento com o Planalto. O agora ex-ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS-SP) se demitiu por conta da repercussão das revelações.
O PSDB havia anunciado intenção de desembarcar do governo, mas acabou voltando atrás.